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A poética das incompletudes
Um espelho só reflete um pedaço de nós, traz a ilusão de uma definição: define o eu mais que deveria, e o perde no processo.
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Sinopse
A poética das incompletudes é um espelho. Há uma teoria de que, a nível cósmico, somos apenas espelhos uns dos outros. Nossos pensamentos não terminam concluídos, mas é isso que dá a possibilidade da continuidade, assim como a continuidade é o que causa a falta do fim do reflexo no espelho. Um espelho colocado num determinado ponto só vai impossibilitar a consciência do que há depois, utilizando a ilusão do que vem antes. A Poética das Incompletudes traz reflexões de diferentes estados de consciência sobre o amor e a desilusão, a esperança e a desistência, a percepção da realidade física e sua relação com a linguagem, a condição humana e o conformismo, luz e sombra, ego e alma... O tempo e a vontade impossível de pará-lo, correr contra ele e vencê-lo, são a primeira etapa da distorção das ideias sobre o que haveria depois do espelho, sem nunca ter ido lá. O que começa com um choque que traz otimismo, se reconhece no espelho e termina por enxergar a sombra e tomar consciência dela.
Trechos
Queria eu invejar Narciso por ter amado tanto o seu reflexo e
não encontrar em mim tantas terceiras pessoas em um
diálogo que me ignora. Por fim,
prendo o cabelo e saio.
***
A associação positiva ao sucesso, pode causar o fim
de uma civilização.
Os pássaros, no entanto, salvarão sua civilização
quantas vezes for preciso.
***
A sinestesia do café merecia o tempo de
criar
o código da cor; a cor do cheiro já existe -- do cheiro
que se olhar pelo sol
entrando pelas frestas da janela da chácara antiga e quase
esquecida, dá para ver a fumaça dançando -- é uma das
razões pelas quais eu fumo: a fumaça dança
para lembrar, hoje
as pessoas só dançam para esquecer.
***
O amor, quando velho, espelha a falta de apetite
na doença, nas rugas e nos cabelos brancos, na tarde
de domingo vendo TV aberta e achando graça.
***
Se eu contar mais rápido que o
ponteiro dos
segundos,
o tempo não passará mais rápido -- o tempo
nem passará. O tempo nunca
passa.
Sobre a Autora
Letícia Félix Fraga é uma poeta mineira de Uberaba. Tardiamente diagnosticada com Transtorno do Espectro Autista (TEA), sempre leu o mundo através de reflexões sobre a natureza das coisas, o que a levou a ser uma autodidata em pontos sutis da filosofia ocidental. É professora de inglês, espanhol e francês e tem se dedicado a estudar o grego antigo, inspirada pela poesia de Safo. Escreveu por muitos anos em inglês, usando pseudônimos, sendo o mais conhecido Adora Williams, com o qual possui poemas publicados em mais de 30 revistas (online e impressas) internacionais, e a plaquete "What if the Quest is Greek"; pela Alien Buddha Press.
A poética no vórtice que me separa
do espelho observa que passo a vida toda olhando para
fora,
não muito diferente do gato ou do pássaro ou do
mosquito que dilacerou o tempo.
O reflexo no espelho -- que já é
passado, é minha única referência dos limites
imaginados de um eu que
acorda todos os dias para tentar entender -- outra
vez -- o que está dentro, o que é reflexo, o conceito do amor...
A existência aqui e agora é um estudo, o espelho é o livro que deixará
incompleta a poética, para que ainda exista o depois.
poema do colofão
© 2023 Letícia Félix Fraga